Eu era daquelas pessoas que nunca tinha assistido aos filmes do Rocky Balboa porque não via graça nenhuma em um filme sobre boxe. Mas, depois de assistir ao primeiro, não quis parar até ver todos: a franquia até que tem bastante cenas do esporte, mas as verdadeiras lutas acontecem fora dos ringues – no dia a dia dos personagens, em seus dilemas e superações, em seus medos e vitórias pessoais. E ainda temos de brinde as lições de vida que o Rocky nos passa com suas reflexões simples, porém verdadeiras. E é tudo isso que faz os filmes do Rocky tão grandes – e agora o cinturão é passado para Creed, que chega ao seu segundo filme sem desapontar aos fãs de Balboa.
Creed II é um daqueles filmes que, já nos cinco primeiros minutos, você sabe que vai ser bom. Se no primeiro filme as emoções já foram fortes pelo retorno da franquia, pelo risco de vida do Rocky e por vermos a ascensão do filho do Apollo, neste ficamos apreensivos e comovidos enquanto o acompanhamos no momento que não é só o mais difícil de sua carreira, mas também o de sua vida: enquanto Donnie dava o seu melhor para virar um boxeador de sucesso, outro homem estava sendo criado e treinado, na Ucrânia, quase que exclusivamente para combatê-lo, movido pelo ódio e desejo de vingança. Este é ninguém mais, ninguém menos do que Viktor Drago, filho do boxeador Ivan Drago, que matou Apollo Creed (pai de Adonis) em um sombrio acidente no ringue em Rocky IV. Acontece que, além de ter as motivações erradas para querer derrotar Donnie à qualquer custo, Viktor é visivelmente mais forte do que o adversário, e está disposto a jogar tão sujo quanto seu pai para vencer e levar o cinturão de volta para a Rússia. E aí começa o primeiro conflito de Donnie durante o filme, decidir se deve ceder à pressão da mídia e de seu adversário para enfrentá-lo, ou se deve ouvir a razão (e o medo) e deixar tudo isso para lá.
Assim como em toda a franquia Rocky, a força de Creed II está nas sutilezas. São os pequenos detalhes, palavras e gestos que fazem os grandes momentos do filme. Nada é o que parece ser e, apesar de um clichê ou outro, ainda somos surpreendidos ao longo do filme – e especialmente em seu final. Como fã, eu não podia ter saído mais satisfeita da sessão, feliz pela história continuar com qualidade depois de tantos anos, ainda causando reflexões que vão além do boxe, além dos treinos pesados, além das músicas de vitória.
Todos os personagens são bem desenvolvidos, e é emocionante acompanhar a trajetória de cada um. E, apesar de Donnie e Viktor serem ligados por um tragédia, não lutam um contra o outro, mas sim pelas memórias e contra o passado de seus pais, que os afetaram e os transformaram no que são hoje, cada um com suas perdas e dificuldades. Nada é preto no branco, ninguém é só o herói ou só o vilão. Todos têm suas próprias lutas acontecendo dentro de si, e precisam enfrentar o pior adversário de todos, que somos nós mesmos quando não acreditamos em nosso potencial ou em nossos ideais.
A carreira de Adonis Creed pode ter decolado no primeiro filme, mas em Creed II vemos que aquilo tudo era apenas o começo, e agora ele deve lutar – literalmente, hehe – para manter o título de campeão e, além disso, sua motivação. Ele não teve o pai ao seu lado enquanto crescia, mas ele tem uma boa rede de apoio com sua mãe, sua namorada Bianca e com seu treinador, Rocky, que também faz uma pontinha como pai com suas frases de efeito e conselhos de “tiozão”! Que Avengers que nada, meu tipo de herói são pessoas como o Rocky, que ajudam outras pessoas a se tornarem não só grandes vencedores no ringue, mas na vida, buscando evoluir como atletas e pessoas. E nisso o Rocky é mestre, afinal, o que é o boxe senão aprender a levar pancadas da vida e continuar de pé, aceitando a dor e superando-a? 😉
Rocky Balboa vive. Apollo Creed vive. E Adonis Creed carrega o legado dos dois sem deixar a desejar, em meio a muitos tumultos e lições em sua jornada para ser um campeão, dentro e fora dos ringues.
Creed II estreia nos cinemas brasileiros no dia 24 de janeiro de 2018.