Esta é a continuação da tradução da creepypasta “Contos do posto de gasolina“, postada no SubReddit NoSleep pelo autor GasStationJack. Para ler a parte 01 deste conto, clique aqui.
No meio da estrada da nossa cidade, há um posto de gasolina de merda, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, e às vezes por mais tempo. Ao entrar, é provável que você veja um caixa cansado sentado atrás do balcão, fazendo seu melhor para cuidar da própria vida. Ele é real. Também é possível se ver mais alguém. Ou mais alguma coisa. Caso tenha curiosidade sobre a realidade de alguém ou algo (inclusive de você mesmo) dentro desse lugar pequeno, sujo, com cheiro de amônia, com as luzes fluorescentes piscando e cheio de junk food de marcas desconhecidas, posso aconselhá-lo a fazer o mesmo que o caixa e cuidar da sua própria vida?
Estou trabalhando no posto de gasolina quase sem parar desde que me formei no ensino médio e, a essa altura, duvido que eu poderia desistir, mesmo que quisesse. Não faz muito tempo que um médico me recomendou começar a escrever em um diário, e depois de pensar um pouco decidi que tentaria. Não é como se os tratamentos convencionais estivessem tendo algum efeito. Mas chega de falar sobre mim. Voltemos ao que interessa. O posto de gasolina.
Passei uma boa parte do meu turno noite passada tentando me decider como começaria esse diário. Onde posso começar que faria algum sentido? Como posso explicar o posto de gasolina para alguém que nunca viveu as coisas que acontecem nele?
Já tentei contar algumas de minhas histórias antes, então sei o que esperar. As pessoas não acreditam. Ou não querem acreditar. Ainda me lembro da dificuldade que foi quando tive que ligar para a delegacia de policia no ano passado e explicar para a menina nova que metade de um porco tinha invadido a loja e estava enlouquecido, quebrando coisas e gritando com a voz de uma mulher velha.
– Sim, eu quis dizer metade de um porco. Sim, um porco. A metade da frente. Não, isso não é um trote. Estou no posto de gasolina. Como assim, qual posto de gasolina? Este é seu primeiro dia ou algo do tipo? Ah, é? Nesse caso, posso falar com outra pessoa, por favor?
Por fim, ela passou minha ligação para o Tom. Ele é o policial que pegou o palito menor muitos anos antes e acabou tornando-se responsável por tudo relacionado ao posto de gasolina. Isso foi muito antes de seu cabelo ficar todo branco. Ele já conhece as coisas por aqui tão bem que tudo o que preciso dizer quando ele atende é: “É metade de um porco. Ele não para de gritar e não consigo pegá-lo”. Então ele solta um grunhido, resmunga algo sobre aquilo ser “estranho para caralho” e vem me ajudar a pegá-lo. O Tom é um cara bom.
Perguntei por aí, mas ninguém sabe de onde esse porco veio. O Fazendeiro Brown – que ainda estava vivo na época – veio e nos deu sua opinião técnica. De acordo com o Fazendeiro, de algum modo o porco havia sido cortado ao meio, mas milagrosamente nenhum dos órgãos vitais foi atingido. Nada de sobrenatural sobre isso, só bastante incomum. O porco ficou na escola como um tipo de mascote durante o verão, antes de um time de cientistas de algum lugar do norte oferecer à escola milhares de dólares para levá-lo. Para a ciência, suponho.
Não quero me estender, mas o que quero dizer é que é difícil acreditar em algumas dessas histórias se você nunca esteve no posto de gasolina pelo menos uma vez. E talvez você tenha. Somos o único posto de gasolina em quilômetros. Estamos perto de algumas rodovias grandes. Case já tenha dirigido por uma parte desconhecida do país e percebeu que estava perdido, não é impossível que tenha nos encontrado, para abastecer ou pedir informações. Caso tenha uma lembrança esquisita sobre um lugar estranho que parece fora do lugar, então há uma chance de nos realmente já termos nos encontrado.
Já era tarde no meu turno da madrugada quando decidi que só iria começar a escrever. Escrevi sobre o que estava acontecendo. Juntei algumas das minhas lembranças mais estranhas, mas decidi que deixaria essas histórias tão inacreditáveis de lado e que nem mesmo faria as pessoas perderem seu tempo com elas (eu as chamo de histórias tente-e-esqueça). Estava escrevendo todas em um livro de recibos quando Carlos me interrompeu.
O Carlos é um dos funcionários de meio período do posto de gasolina. Temos uma lista considerável de funcionários de meio período aqui. Os donos gostam de contratar transientes, andarilhos, mochileiros, transeuntes e fugitivos procurando por trabalho por alguns dias. Tento não conhecê-los. Eles vem e vão depois de alguns dias e, às vezes, algumas semanas, raramente ficando tempo suficiente para se formar qualquer tipo de relação significativa.
Mas tem o Carlos, que está trabalhando aqui por quase um ano. Ele começou como parte do programa de trabalho prisional de remição de pena, descarregando caminhões duas vezes na semana e foi o único dos 12 presos que não sumiu durante uma tempestade de neve fodida em Dezembro, mas isso não é da minha conta. O Carlos cumpriu sua pena e quando foi solto veio trabalhar aqui, limpando a loja e descarregando caminhões. Ele vem seis vezes ao dia para seus turnos de 30 minutos. Pensando melhor nisso, não tenho certeza do que ele faz nos seus turnos. A loja nunca está limpa e caminhões só vem duas vezes por semana, exclusivamente durante o dia, após um acordo feito por causa de um “incidente”. Talvez um dia eu pergunte ao Carlos o que ele faz para os donos. Tudo o que sei é que ele é o que tenho mais próximo de um amigo aqui.
Quando o Carlos aproximou-se do caixa noite passada, eu sabia que tinha algo esquisito acontecendo. Ele estava suando muito, pálido, e quase desmaiando. Ele ficava olhando para o homem de terno que havia entrado na loja e estava perto da máquina de frozen. Ele disse que precisava conversar. “Agora”. Falei: “”Pode falar”, mas ele se recusou, a não ser que eu o seguisse até o freezer. Normalmente, odeio deixar a loja sem ninguém. Temos alguns casos de roubos. Além disso, certa vez Rocco entrou e pegou dois maços de cigarros. Mas Carlos estava sério, então abri uma exceção.
Ao entrarmos na segurança congelante do freezer, o Carlos me perguntou se eu tinha visto o homem de terno. Disse que sim, eu o vi. Ele me perguntou se eu o conhecia. Disse que sim, já o havia visto por aí. Seu nome era Kieffer. Ele estava concorrendo a algum tipo de cargo público – não me lembro qual – e vinha ao posto de vez em quando. Ele dirigia uma SUV preta e velha e parecia só abastecê-la com gasolina premium. Não o conhecia muito, mas ele era sem dúvidas um morador da cidade. Sua foto estava exposta em uma prateleira cheia de troféus no ensino médio que frequentei, na qual praticava de uma competição que ele vencera anos e anos antes de eu entrar na escola. Tínhamos muitas coisas para nos orgulhar, eu acho. Disse tudo isso a Carlos, que balançou a cabeça e disse: “Não. Aquele não é o Kieffer”.
“Como não?”, perguntei.
E o Carlos me contou: “Aquele não pode ser o Kieffer, porque o Kieffer está morto há dois dias. O corpo dele está no porta-malas do meu carro nesse exato momento”.
E foi quando as coisas começaram a ficar esquisitas.
Foi uma noite muito estranha. Entre as plantas em formato de mãos, Fazendeiro Jr. e os cultistas que não me deixavam em paz, não tive muito tempo para organizar meus pensamentos.
E, claro, o que aconteceu com Carlos.
Prometo que voltarei para terminar de contar tudo isso, mas primeiro preciso de café.