Deixando bem claro que este texto não é um ataque pessoal ao Neymar ou qualquer outra figura que possa ser citada no decorrer da linha de raciocínio, isto é mais uma análise de um pensamento geral do que as atitudes de um indivíduo em específico.
Recentemente, o jogador Neymar Jr. se envolveu em mais uma polêmica. Se você estava numa caverna recentemente ou nos lê de um futuro muito distante, eis o acontecido: após o insucesso da seleção brasileira na copa de Rússia em 2018, inúmeras críticas foram feitas ao atleta, principalmente quanto a sua postura dentro e extra campo. Inúmeros memes foram produzidos pela internet, reproduzindo seu “modo de jogo”, inclusive fora do Brasil, hatear o jogador virou esporte e mais uma vez o mundo se via polarizado. Diante de toda essas opiniões, o protagonista de tudo isso ainda não havia se pronunciado de maneira convincente, mas eis que a cereja do bolo acontece:
O comercial elaborado pela Gillette com as falas de Neymar foi lançado no dia 29 de julho, e com um dia de publicação no YouTube alcançou a incrível marca de meio milhão de visualizações, tendo 15 mil “likes” e, apenas, 20 mil “dislikes”. Esses simples números de audiência conseguem nos mostrar muito da situação atual do público para com as falhas das nossas figuras públicas.
DE HERÓI À VILÃO (a herói de novo)
Muito se esperava da seleção na copa da Rússia. Desde o famigerado 7×1, existe um azedume muito grande quando se trata de futebol internacional – deixamos claro aqui que isso se trata apenas da seleção masculina ok, a feminina vai muito bem, obrigado. Sendo um dos maiores tesouros nacionais (mesmo que você não goste, ou não acompanhe tanto futebol, há de concordar), as seguidas decepções copa após copa criaram um sentimento de descrença perante a seleção canarinho e, principalmente, aos jogadores que ostentam o manto amarelo. Somando essa descrença à crise nacional (política, financeira, de caráter e etc), o senso comum precisava criar um herói, um salvador para nos tirar desse limbo e nos trazer um pouco de alegria, e o escolhido foi Neymar nessa copa. O tanto de memes feitos para com a “desgraça” do jogador existem na mesma quantidade de quando ainda não se tinha acontecido a decepção, tratando o jogador como o Messias, ou até o Exódia que, magicamente, traria o hexa para o Brasil. Bom, não funcionou. Muito disso, obviamente, era só meme, mas muito do público levou tudo isso a sério, se transformando nesta bola de neve.
O “PETERPANISMO” MODERNO
Adotada como base para praticamente qualquer história (principalmente de ficção), temos o conceito do “monomito” ou, para simplificar, a “jornada do herói”. Aparecendo pela primeira vez lá nos anos 50, citado pelo antropólogo Joseph Campbell em seu livro “O Herói de Mil Faces“. Em síntese, o conceito explica toda a jornada de um personagem, seu amadurecimento, suas falhas, o aprendizado com os erros, o apogeu e, por fim, a conclusão da saga. Tá bom, tá bom, eu já assisti muitos filmes e li muitos quadrinhos, sei do que se trata, mas o que isso tem a ver com a situação? Simples, com a nossa falta de perspectiva em grande parte das áreas que regem nossa vida, nos apoiamos em ídolos, para nos trazerem certa esperança e felicidade. A necessidade de ídolos é inerente à nossa existência, e ela se torna ainda mais latente em épocas de crise. O perigo está em fazer isso com outros seres humanos, ao vermos nossos ídolos falhando, é como se falhássemos também, então vem todo o sentimento de decepção, mágoa, entre outras coisas. Neymar não é mais um menino, a grande mídia vende essa imagem por conta de que assim é mais fácil aceitar suas falhas, assim como aconteceu com Justin Bieber uma época, várias celebridades teens, entre outras.
Precisamos aceitar que a vida real é muito diferente da ficção, seus, nossos ídolos, independente de quem sejam, irão errar, irão falhar, como qualquer ser humano. Cobrar é normal, mas sempre com consciência e bom senso.