Depois de “Princesa de Papel” (Paper Princess), publicado no Brasil pela editora Planeta em janeiro de 2017 e “Príncipe Partido” (Broken Prince) em julho, no início deste ano chegou às livrarias o terceiro volume de The Royals, série escrita pela canadense Elle Kennedy (Amores Improváveis) e a americana Jen Frederick (Woodlands e Gridiron) com o pseudônimo Erin Watt.
Intitulado “Palácios de Mentiras” (Twisted Palace), a obra traz o encerramento da trama central da série, o romance e a história de Ella Harper e Reed Royal, segundo entre os cinco Royal, e uma abordagem um pouco mais voltada para as consequências causadas pelos segredos, mentiras e estilo de vida privilegiado da mais influente família de Bayview.
Com o final de “Príncipe Partido”, eu não poderia estar mais ansiosa para esse enceramento. Assim como em seu antecessor, os acontecimentos finais do livro trazem um plot twist que surpreende o leitor e muda, completamente, a linha narrativa da história a ser apresentada nesse último livro. Livro do qual gostei muito, mas para o qual tenho ressalvas… como por toda série.
Brooke Davidson, a noiva grávida de Callum Royal, está morta! E Reed é o principal suspeito de ter cometido o assassinato. Conhecido por sua tendência a resolver os problemas com violência e lealdade inquestionável à família, característica que o leva a tomar decisões estúpidas quando sente que algo os ameaça, além de imagens que comprovam uma visita a futura madrasta na noite do crime, todas as provas apontam para o Royal.
Ella Harper é uma jovem forte e independente, que sempre precisou lutar sozinha pela própria sobrevivência… Pelo menos até ser arrastada para a mansão Royal e encontrar nos homens que nela habitam uma família e o amor. Agora, com a iminência da prisão de Reed, tudo o que Ella construiu está ameaçado, e ela vai precisar lutar mais uma vez. Lutar para provar a inocência de Reed. Para defender aqueles ama. E para impedir a destruição de sua nova família. Mas será que mesmo com toda sua força e amor, Ella consegue lidar com tudo isso e ainda com o retorno do pai desaparecido?
Como os volumes anteriores, “Palácio de Mentiras” é um livro que prende a atenção do leitor desde a primeira página. Ele é bem escrito, flui com facilidade, e traz de volta aquela atmosfera de deslumbramento provocada pelo estilo de vida dos Royal, que apesar de tóxico, desperta nas pessoas um sentimento de desejo. Elas querem os privilégios que os meninos Royal têm, assim como fazer parte daquele mundo onde dinheiro e poder parecem significar o fim de qualquer barreira, limite ou dificuldade.
Os elementos textuais e narrativos que constroem a trama também permanecem imutáveis. A narração é feita em primeira pessoa e compartilhada, em curtos capítulos, pela perspectiva de Ella e Reed. Os relacionamentos amorosos, amistosos, escolares e familiares são compostos por características uma vez já apresentadas, apenas com algumas evoluções, e a história ainda utiliza um toque de sensualidade e comédia, próprio de alguns Young Adult.
As autoras trazem de volta tudo o que fez da série algo tão envolvente para os leitores, acompanhado de novos elementos como o suspense do assassinato da Brooke, a revelação de alguns segredos existentes no círculo social no qual os Royal estão inseridos e a possibilidade de um deles se dar mal, pego por um problema do qual nem o dinheiro nem o poder podem livrá-lo, para que haja um equilíbrio entre o funcional e inovador.
No entanto, existem algumas coisas que me incomodaram, primeiro: na tentativa de manter evidente a proposta da trilogia, tive a impressão de que as autoras fugiram um pouco da proposta da história desse terceiro livro. Apesar de não ter nada muito gritante quanto a isso e elas darem continuidade a atmosfera de suspense que o assassinato de Brooke criou, assim como às consequências que ele implica na vida de Reed, Ella e toda sua família, existem momentos onde ele deixa de parecer relevante e isso me deixou com uma sensação de estranheza.
E segundo: durante toda a série, principalmente no primeiro volume, existe a banalização de algumas situações e temáticas. Coisa que pode não incomodar algumas pessoas e fazer parte da construção do cenário e da atmosfera ficcional de Erin Watt, devido ao grupo que os personagens pertencem e seus estilos de vida, mas que intencional ou desintencionalmente, devem ser acessadas apenas por pessoas com maturidade o suficiente para entender e diferenciar ficção de realidade.
Apesar de o relacionamento de Reed e Ella não ser um relacionamento abusivo ou os Royal se mostrarem melhores do que indicavam no primeiro livro, Ella ainda se apaixonou por um bad boy que a tratou mal, e mesmo que tenha tido a sorte de ele ser alguém diferente do que aparentava, porque seus problemas faziam com que ele necessitasse de uma armadura, muitas mulheres não têm a mesma sorte. E os problemas de Reed, assim como os de seus irmãos não justificam a forma como eles se comportam.
Além disso, ainda há o fato de os Royal, assim como muitos outros na Astor Park, serem meninos privilegiados, que acreditam que tudo pode ser resolvido com dinheiro ou influência, e terem um descontrole emocional que faz com que ajam com violência ou intimidação. Coisa que não é normal e nem deve ser vista dessa forma, e por mais que as autoras tenham tentado ensinar isso através da história de Reed, isso não foi feito da melhor forma, porque para que veja as coisas de uma nova perspectiva, mais realística e menos privilegiada, ele precisa passar por situações que parecem desenvolvidas para lhe proporcionar uma lição correcional, o que não é o ideal.
Em suma, “Palácio de Mentiras”, assim como toda a série The Royal, tem uma história envolvente e gostosa, mas que precisa de senso crítico para ser entendida e aproveitada da melhor maneira. Uma ficção que entretêm o leitor e lhe proporciona ótimos momentos de lazer, mas que deve ser mantida dessa forma, e ser não utilizada como exemplo para a realidade, ou algo a ser almejado.
PALÁCIO DE MENTIRAS
AUTOR Erin Watt;
TRADUÇÃO Regiane Winarski;
EDITORA Planeta Livros;
ANO 2018;
PREÇO 23 reais, aproximadamente.