Ah, o velho clichê de filmes de espíritos: tragédias familiares que resultam em acontecimentos estranhos e na invocação acidental de uns espíritos bem loucos. Mas sabe que em Hereditário tudo isso até que funciona muito bem?
O filme já começa nos introduzindo numa atmosfera incômoda: casas em miniatura tão detalhistas que chegam a ser suspeitas, uma trilha sonora bem construída, um o clima de luto no ar e uma fotografia de tirar o chapéu. A família Graham acaba de perder a “querida” e polêmica avó, mãe de Annie, interpretada (MARAVILHOSAMENTE BEM) por Toni Collete. Sim, sou fangirl de carteirinha, e não é difícil de entender o porquê do nome dela ter surgido no cast desse filme. A mãe dela sofria de diversos transtornos psicológicos que a impediam de ter uma relação muito saudável com Annie, e um deles era o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), originalmente conhecido como Transtorno de Personalidades Múltiplas (Fragmentado manda beijos).
A querida, linda e talentosíssima Toni Collete (enganei vocês, isso não é uma resenha, é uma carta de amor pra Tonizinha) é bem conhecida pela série United States Of Tara, que lhe rendeu um Emmy e um Golden Globe por sua interpretação de Tara, a protagonista, que sofria do mesmo transtorno. Os outros atores, principalmente a filha de Annie, Charlie, interpretada por Milly Shapiro, terrivelmente assustadora e encantadora, também mandam bem. Mas Toni acaba brilhante, e o filme é o show dela. Mas, ó, cá entre nós, podiam dar o roteiro do comercial do Dollynho pra ela fazer que viraria um tremendo sucesso.
Bem. Então. Voltando para o filme… A mãe de Annie morre. Annie tem sentimentos conflitantes sobre isso e não sabe muito bem como expressar o que sente, principalmente ao ver o quanto a morte de sua mãe afetou sua filha, Charlie, que era muito próxima da avó. Ao remexer as caixas de coisas da mamãe, Annie acaba encontrando algumas coisas muito… curiosas… como livros de reflexões sobre o espiritismo, que a deixam intrigada e receosa.
E, claro, é quando um dos personagens encontra o “artefato maligno” que toda a bosta começa, e aqui não é diferente. Começamos a questionar o relacionamento de Tara com sua mãe, o porquê de ela ser lembrada como uma mulher tão difícil de lidar, e questionamos cada barulho, movimento e olhar torto de um dos personagens. O filme sabe nos deixar tensos, apesar de ser bem lento em algumas partes, e mantém essa aflição até o final – mesmo que esse possa decepcionar alguns, como eu, que não estava preparada para o que aconteceu.
É um bom filme, mas não se iluda – não é o melhor filme de terror de todos os tempos ou o mais assustador do ano (assim espero!), como estão vendendo, mas dá pra se “divertir” – para quem gosta de cenas fortes e inesperadas, é um prato cheio. Como sempre, a tentativa de levar mais pessoas ao cinema engrandecendo o filme causa decepções, o que faz com que um filme que poderia ser muito melhor aproveitado sem tantas expectativas em cima seja um filme mais ou menos para muitas pessoas. É um daqueles filmes que nos traz mais perguntas do que respostas, por isso, não vá esperando que tudo se resolva e explique no decorrer da história. Assim, evitará muitas decepções. Mantenha a mente aberta para diversas interpretações e o coração preparado para a angústia crescente!
Hereditário estreia dia 21 de junho nos cinemas brasileiros. 😉