O Navio Arcano: um exemplo de livro de fantasia espetacular

Todo leitor tem suas preferências, seja por gêneros literários e/ou editoras. E se houver preferências, certamente haverá incompatibilidades, aqueles livros e selos editoriais que nunca funcionam.

Conversando com uma prima, leitora ávida como eu, percebi que não sou uma pessoa de preferências bem definidas – tenho sim minhas incompatibilidades -, mas sou mais de fases, e as minhas leituras se alteram de acordo com elas, que, consequentemente, mudam com meu humor e/ou sentimentos que predominam naquele determinado período.

Minha última fase envolveu um tipo de leitura que há tempos não fazia. Uma leitura no gênero de fantasia. O livro escolhido foi “O Navio Arcano”, escrito pela autora norte-americana Megan Lindholm, sob o pseudônimo Robin Hobb.

O livro é o primeiro volume da série “Os Mercadores de Navios-Vivos” da autora, ela que já é amplamente conhecida por sua primeira obra sob o pseudônimo, a trilogia “Saga do Assassino”. Composta pelos livros “O Aprendiz de Assassino”, “O Assassino do Rei” e “A Fúria do Assassino”, a série foi escrita em 1995, e também teve sua publicação realizada pela editora Leya, em 2013.

Uma das mais celebradas e cultuadas autoras contemporâneas de literatura fantástica (um de seus maiores fãs é George R.R. Martin, de A guerra dos tronos), Robin Hobb, autora da “Saga do Assassino”, retorna ao universo ficcional conhecido como Reino dos Antigos com a trilogia “Os Mercadores de Navios-Vivos”.

No primeiro volume, O navio arcano, Robb faz referências a clássicos como Moby Dick, de Herman Melville, e Mestre dos mares, de Patrick O’Brian, para conduzir o leitor por uma aventura marítima repleta de magia.

A narrativa apresenta a história de um orgulhoso grupo de famílias que navega por mares bravios repletos de piratas e serpentes a bordo de seus navios-vivos – embarcações raríssimas e mágicas feitas de madeira-arcana, capazes de adquirir vida própria. Raros e valiosos, eles têm uma ligação íntima com a família que os comprou originalmente, e sua vida só é despertada depois que três membros de gerações seguidas morrem em seu convés.

Ao longo dos anos, os Velhos Mercadores de Vilamonte tiveram sua riqueza dilapidada pelas guerras ao norte e pelas pilhagens dos piratas ao sul, e agora ainda precisam lidar com o aparecimento de Novos Mercadores, que pretendem abalar o tênue equilíbrio existente entre Vilamonte e os Ermos Chuvosos. A única esperança de renovar a prosperidade da família Vestrit, uma das mais antigas de Mercadores da região, é Vivácia, uma embarcação que está com eles há gerações e prestes a se tornar um navio-vivo. A bordo dela navega a filha do capitão, Althea Vestrit, abalada com o estado de saúde do pai, mas ansiosa pelo despertar do navio que tanto ama.

Enquanto isso, o ardiloso pirata Kennit anseia por obter seu próprio navio-vivo. Já bem familiarizado com o poder da madeira-arcana, ele tem planos bem específicos para sua futura embarcação… E não medirá esforços para conquistá-la.

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Comecei a leitura do livro um pouco receosa, com a sensação de que dessa vez uma fantasia não me conquistaria. Nas primeiras páginas já era possível perceber uma descrição densa do cenário e um amplo espaço para a construção dos personagens. Características recorrentes no gênero, e que nunca me incomodaram, porque gosto de elementos que possibilitam um maior aprofundamento da narrativa e emersão do leitor na história, mas que nesse caso, pela extensão da obra, acreditei que tornaria a experiência maçante.

Contudo, foram precisas poucas páginas do início para que a extraordinariedade do livro mudasse minha percepção. E os comentários apresentados na capa e contracapa do livro, como o do autor George R. R. Martin, que afirma: “É assim que devem ser os livros de fantasia”, e os das revistas Publishers Weekly e Booklist, que descreveram-o como: “Uma obra-prima da alta fantasia, um misto de Tolkien com Patrick O’Brian… Uma das melhores sagas para pavimentar esse milênio” e “Uma saga excepcional… As caracterizações são magníficas e Hobb dá vida aos personagens e a história com amor e conhecimento do mar.”, respectivamente, expressam de forma muito clara e sucinta a preciosidade que “O Navio Arcano” é.

O livro é uma novela, com inúmeras linhas narrativas construídas com muita qualidade e bem amarradas. Com personagens e histórias tão igualmente marcantes, que enchem os olhos e as mentes dos leitores. Você termina um fragmento de uma das linhas narrativas e fica ansioso para retomá-lo, mas logo é capturado pelo fragmento seguinte, e o anterior é temporariamente esquecido. Seguindo dessa forma até o fim da viciante leitura.

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Os personagens são diversificados, o que possibilita a criação de laços. Tem jovens e ambiciosos capitães de navios; filhas caçulas de mercadores de navios-vivos, que estão determinadas a seguirem os passos dos pais; jovens marujos que há muito eram filhos herdeiros de nobres; meninos de 13 anos que foram prometidos a se tornarem homens de fé; e até serpentes marinhas e navios-vivos, entre outros. Todos com características tão realísticas e marcantes, que levam as pessoas a encontrarem não só a si mesmas como também importantes conhecidos nas palavras escritas por Hobb.

A riqueza nas caracterizações de cenários e de personagens, tanto em aspectos físicos quanto emocionais e psicológicos, transportam para dentro da história, proporcionando uma viagem com aventuras inesquecíveis. É quase possível sentir os odores e as sensações descritas, e tudo parece à distância de um toque.

Apesar da escrita rebuscada, muito comum nas fantasias, a leitura flui com facilidade, de maneira gostosa. A diagramação é bem feita, a capa é linda e a proporção dos capítulos é condizente com a necessidade do conteúdo a ser trabalhado naquele ato. O único ponto negativo é o tamanho do livro, que é muito grande e torna difícil seu manuseamento, mas o que acaba sendo compreensível, já que uma possível divisão poderia fazer com que ele tivesse um valor bem mais elevado.

O Navio Arcano” é uma obra impecável, que faz as pessoas lembrarem-se da magia existente nas palavras, e que para viverem aventuras incríveis nem sempre precisam deixar o conforto de suas casas.

O NAVIO ARCANO

AUTOR: Robin Hobb;

TRADUÇÃO: Gabriel Oliva Brum;

EDITORA: Leya;

ANO: 2017;

PREÇO: 50 reais, em média.

Nota-do-crítico-5

 

 

 

Nerd: Ana Giese

A louca com compulsão obsessiva em comprar livros e estudante de jornalismo! Que ama Harry Potter, se apaixona constantemente por personagens fictícios e passa 14 horas assistindo Netflix. Pelo menos sabe precisar de uma visitinha ou duas ao psicólogo!!

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