SINOPSE: Marlo (Charlize Theron, vencedora do Oscar), mãe de três filhos, incluindo um recém-nascido, é presenteada com uma babá de seu irmão (Mark Duplass). Hesitante à extravagância no início, Marlo cria um vínculo único com a jovem babá pensativa, surpreendente e às vezes desafiadora chamada Tully (Mackenzie Davis).
É um tanto quanto irônico que, depois de ter lido e resenhado Canção de Ninar, um livro sobre uma babá perfeita com um final surpreendente, eu tenha ido assistir a Tully, e venho contar pra vocês essa outra história, completamente diferente, apesar de também ser sobre uma babá perfeita com um final surpreendente. Com roteiro de Diablo Cody (de Juno, Garota Infernal e United States of Tara), sempre tão característico pela forma como ela retrata a realidade com um humor cotidiano cru extremamente relatable, o filme nos apresenta a Marlo – esposa, mãe de duas crianças e futura mãe de mais um bebê que, apesar de não ser indesejado, também não era muito esperado. Marlo claramente passou – e ainda passa – por poucas e boas para cuidar de sua filha e seu filho (que tem algum espectro de autismo que o filme não deixa claro e que torna a rotina de sua mãe mais complexa), ainda não está totalmente recuperada das frustrações das outras gestações e de suas próprias expectativas de vida, e terá que passar por tudo de novo… E é aí que seu irmão, preocupado, sugere a ela que ela aceite, como presente dele, uma babá noturna.
Marlo, que, apesar de suas falhas e limitações é uma excelente mãe, não se sente confortável com a ideia de deixar a filha recém-nascida com uma desconhecida. Ela reluta no começo, mas acaba cedendo ao “capricho” ao perceber que não dará conta de tudo sozinha – sério, eu, que só tava lá plena sentadinha na plateia, já estava desesperada só de vê-la passar por tudo isso (que show de interpretação, hein, Theron querida), já estava quase eu entrando no filme pra ajudar a coitada. E é aí que surge Tully. A babá, que passa a noite na casa para cuidar da bebê enquanto os pais descansam, é tudo o que Marlo não é mais: é jovem, bonita sem nenhum esforço, livre, contestadora, independente, revolucionária, encantadora. Todo o seu charme e intenção sincera de ajudar Marlo a se reencontrar são apaixonantes, e não é à toa que as duas acabam criando um laço muito forte. Tully é perfeita, as coisas começam a melhorar, Marlo está visivelmente mais feliz e começamos a torcer profundamente para que Tully não seja uma psicopata que vá matar a família inteira (ok, como fã de um bom terror, eu ia adorar se isso acontecesse), mas prendemos a respiração porque sabemos que nada é perfeito para sempre, e nem a babá noturna pode ser – ou será que pode?! o que será que dá errado?! Sinto muito, mas fecho meu bico aqui. Qualquer detalhe a mais e o filme seria todo spoilado!
Talvez Tully não seja o filme perfeito e feliz sobre maternidade “Comercial de Doriana” que as pessoas gostariam de assistir em pleno dia das mães, mas é um filme real sobre a entrega, sobre as delícias e as dores de ter que, muitas vezes, abdicar de sua vida, suas vontades, para priorizar a vida de seus filhos. É sobre o cansaço, a depressão, a rotina, as oportunidades perdidas. É sobre as alegrias que compensam os esforços feitos, as noites mal dormidas. É fazer tudo o que pode, o que não pode, ao infinito e além por aqueles a quem amamos, mas sem esquecer que também temos que fazer de tudo por nós, ter amor próprio, e não nos deixar para sempre em segundo plano. Não sei como descrever esse filme sem estragá-lo, mas eu adorei cada segundo – amo o jeito da Diablo Cody contar histórias de mulheres, sempre tão fortes em suas fraquezas, sempre tão absolutas em seu caos… E a vida, sempre tão real em sua irrealidade. Um filme para mães, pais, filhos, filhas, tios, tias, avôs, avós, casados, solteiros, migos e migas… É filme pra geral que adora se emocionar, adora rir e adora boas atuações misturadas com o cinismo gracinha da Diablo, pra quem adora refletir sobre a vida, o universo e tudo mais.
Tully estreia nos cinemas nacionais no dia 24 de maio. Garante a pipoca, os doces e os lencinhos! 😉