Com a chegada do verão em Orlando, um mundo de aventura e repleto de possibilidades se abre para um grupo de crianças, liderado por uma menina (Brooklynn Prince) de apenas seis anos. Enquanto eles vivem as maravilhas da infância, os adultos ao seu redor lidam com tempos difíceis.
Confesso, a sinopse de Projeto Flórida não era das mais empolgantes. Mas havia algo intrigante por trás do verão daquelas crianças que me fez desconfiar de que não seria só um filminho sobre as peraltices de uma galerinha da pesada. E hoje, logo nos primeiros minutos da cabine que rolou no Cinemark do Shopping Cidade São Paulo, percebi que tinha razão.
Com direção de Sean Baker e contando com a atuação indicada ao Oscar de Wilem Dafoe, o filme começa com uma vibe de documentário, mostrando a vida cheia de atribulações das crianças e famílias que moram nos motéis de beira de estrada ao redor da Disneylândia – uma realidade que não estamos muito acostumados a ver, contrastando com o “mundo mágico do Reino Encantado”, prometido a nós pelo Mickey.
Preciso começar elogiando as atuações! Não é à toa que Brooklynn Prince, a pequena atriz que dá vida e personalidade à Moonee, a “líder” das crianças, levou o prêmio de Melhor Jovem Atriz. Os diálogos e interações são tão espontâneos que nem parece que os atores seguiam um roteiro. E o mais curioso é que Dafoe era o único ator escalado mais conhecido, o resto do elenco foi escolhido de forma bem diferente. Que intuição, hein, essa turma junta funcionou bem demais!
O drama real exposto por Sean Baker, das famílias de “indigentes ocultos”, como ele mesmo diz, é contado sem pressa, de forma delicadamente intensa. É notória a preocupação de todos os envolvidos no filme de mantê-lo o mais próximo possível da realidade. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Projeto Flórida é uma excelente e necessária denúncia do que acontece além dos castelos e fogos de artifício, da contradição causada pelo capitalismo e pelas crises.
De forma autêntica e atmosférica, Projeto Flórida nos suga para dentro da história, misturando drama e comédia. Com personagens crus, atuações comoventes e sua fotografia e cenário envolventes, o filme que achei que seria tedioso me conquistou do começo ao fim, e saí do cinema com lágrimas nos olhos, pasma com a realidade expressa em tudo aquilo, relutante em deixar a história de Moonee, Halley (a mãe porra-louca, porém boa mãe na medida do possível), Bobby (o gerente do hotel e benfeitor das duas) e tantos outros para trás.
Projeto Flórida estreia nos cinemas do Brasil no dia 1º de março, e eu já tô morrendo de vontade de assistir de novo!