“As Batalhas mais difíceis são lutadas na mente, não com espadas”
Hellblade é um jogo que saiu no meio do ano passado para PS4 e Windows PC e passou meio que despercebido. Agora ele está colecionando prêmios e eu fui la ver qual é a dele…. e cara! Que jogo! Eu tenho um carinho por jogos indies – em geral eles inovam e trazem frescor ao mercado – e Hellblade é considerado um jogo indie AAA porque no seu desenvolvimento participaram cerca de 20 pessoas – o que é pouca gente quando comparamos com os grandes estúdios. É um jogo relativamente curto também (cerca de 8 horas de gameplay), mas foi feito com muito cuidado. Os gráficos são excelentes: escuros quando tem que ser, com texturas corretas. O som é um espetáculo digno de Oscar! A jogabilidade é muito boa, sem ser simplista demais – é um hack and slash mas daqueles difíceis, que você tem que entender o comportamento do inimigo para pegar ele com a guarda baixa. E a história, bom… essa me fisgou!
A protagonista do jogo é Senua, uma guerreira celta que sobreviveu a uma invasão viking e agora tem que descer até o inferno para salvar a alma do seu amado Dillion. Parece óbvio? Mas não é. Senua tem distúrbios mentais, uma psicose grave e é assombrada por vozes e pela escuridão do seu passado. Enquanto luta para entrar no reino de Helhein, o inferno viking, ela é constantemente alertada por vozes, ilusões, memórias que vão vindo e explicando um pouco da história. Aliás, as vozes são tão fantásticas que você tem que jogar de fone para que elas estejam dentro da sua cabeça mesmo! Você sente toda a paranoia da protagonista, com as vozes te incentivando a fugir, a olhar em alguma direção quando algum inimigo está atacando, dando dicas – aliás, o tutorial do jogo é feio pelas vozes. Elas dizem o que você tem que fazer de forma extremamente sutil! Assim o jogo vai percorrendo a descida de Senua para salvar a alma do seu amado, suas paranoias e os surgimento delas, e ainda conhecendo um pouco da história dos invasores Vikings que mataram toda sua vila e a deixou com os seus deuses para enfrentar. Aliás, a imersão na história viking está fantástica! Esqueça o Thor: Ragnarok. O Studio Ninja Theory fez uma pesquisa para entender o momento da invasão viking no norte da Grã Bretanha e trouxe os cenários e a cultura daquele momento. Os navios Vikings estão lá, os guerreiros com sede de sangue e seus deuses são combatentes duros no caminho de Senua até Hela (que não é a Cate Blanchet). E quando você finalmente chega até Hela… bom, não vou dar spoiler, mas o final é sim gratificante! E o sacrifício de Senua se mostra digno de um jogo completo que merece todos os prêmios que vem colecionando!
Um ponto contra o jogo: Para você aproveitar ele ao máximo tem que conhecer inglês. A Sony não traduziu o jogo (podia traduzir pelo menos as legendas né @PerguntaPlay?), o que dificulta a entrada dos jogadores brasileiros. A história tem uma complexidade que pede o entendimento do inglês, e as vozes são um protagonista importante na ambientação da paranoia da guerreia. Mas isso então vira um incentivo para você ir lá e aprender inglês vai!
Helblade é uma experiencia memorável. Dá para entender a paixão dos desenvolvedores do jogo quando o entregaram – a jornada de Senua para recuperar a espada no escuro seguindo os sons com certeza será lembrada como uma referência em gameplay e é um dos pontos altos do jogo! A imersão, a construção da personagem, sua história e seus distúrbios são fantásticos (o estúdio consultou médicos e especialistas para trazer a experiência do sofrimento que a personagem passa). Quem curte uma boa história e um bom gameplay tem que ir até o fim dessa jornada.