Há alguns anos – 4 ou 5, aproximadamente -, ouvi falar sobre a autora brasileira Paula Pimenta. Li em algum lugar que ela escrevia livros juvenis, histórias sobre adolescentes em seus tempos de colégio, onde os primeiros amores, as primeiras decepções e amizades acontecem. Aquele tempo em que começamos a sentir os primeiros resquícios de independência, que adoramos fingir não sermos mais crianças e pensar que nossos pais, zelosos, conspiravam para a nossa “infelicidade”. Quando não tínhamos grandes preocupações.
Lembro que eu estava no ensino médio, já gostava bastante da companhia dos livros e, mesmo parecendo excessivamente juvenil para alguém naquela idade – as narrativas de Fani e Priscila, personagens de Paula Pimenta, começam aos 13 anos -, decidi que conheceria as obras da autora. Pouco tempo depois, adquiri o box de Fazendo Meu Filme em uma promoção on-line.
O livro que conta a história de Fani, uma adolescente que tem a vida completamente mudada quando a oportunidade de um intercâmbio em Londres aparece, e dos acontecimentos que antecedem e sucedem a tão esperada viagem, naquela época já era, para mim, exatamente o que as pessoas imaginam quando escutam falar dele. A jornada de uma adolescente que começa a presenciar algumas das muitas aventuras e sentimentos que a vida oferece ao longo dos anos.
Primeiras decisões importantes, mágoas, inseguranças, decepções e amores significativos. Amizades que podem vir a durar uma vida inteira, alegrias e tristezas. Aquelas primeiras viagens desacompanhadas dos pais, festas e outras tantas lembranças que ficarão marcadas para sempre. Os primeiros, singelos, passos de uma longa caminhada.
E em um total de 4 volumes é isso que Paula Pimenta faz. Ela caminha com seus personagens – e com eles, seus leitores – até suas vidas adultas, de forma realista, e só. Sem grandes tramas e mistérios, apenas a vida como ela é em suas diferentes fases. Então, há muito drama, choro, risadas, corações partidos e – o que depois de amadurecidos – hipocritamente chamamos de “bobagens adolescentes”. A simplicidade rotineira da existência humana.
Lendo isso na infância, a história não me parecia nada diferente daquilo que eu mesma vivia. A essência da vida de Fani, apesar de mais luxuosa, era a mesma da minha. Era como acompanhar as mesmas situações, mas com pessoas e situações diferentes, e a experiência foi bastante divertida. Devorei os livros em poucos dias. Afinal, eu sabia o que a personagem estava sentindo! Não poder ir a uma festa ou ficar além da meia-noite, era mesmo o fim do mundo.
No entanto, agora, aos 20 anos, universitária e uma pessoa diferente daquela Ana que não entendia os motivos dos pais e o que era a vida – ainda hoje não entendo -, com a história de Priscila, a experiência não foi igual, mas mesmo assim, significativa. Foi como revisitar uma velha amiga e reviver velhas lembranças, que há anos foram deixadas de lado.
Dessa vez, apesar das situações semelhantes – com o amadurecimento vem também a percepção de que as inseguranças, mágoas e decepções não deixam de existir por invariáveis como o envelhecimento. Apenas se transformam como um vírus -, a identificação ficou por conta da pessoa que eu já fui, e de alguma forma ainda sou. Pude, ao acompanhar a história da personagem, relembrar a Ana criança e adolescente. Uma pessoa de sorriso e felicidades fáceis.
Reascender antigos sonhos e lembrar pequenos gestos que traziam satisfação imensurável. A nostalgia saudosa de não temer as inúmeras possibilidades e de aceitar que é preciso perder-se para só então encontrar-se, sem medo de permanecer vagando até o fim da estrada. E por fim, perceber por que muitos aspectos de minha vida mudaram, mas não o amor pelos livros – mesmo os infantojuvenis.
Quando a pressão dos estudos, viver no capitalismo, as dificuldades financeiras e da vida adulta se tornam excessivamente opressivas, eles me lembram da necessidade de andar de mãos dadas com a esperança, sorrir, e agradecer as pequenas conquistas e alegrias. Mas acima de tudo, porque assim como meus pais faziam na infância, eles constantemente me ensinam que não há problema em cometer erros. Que sonhar é necessário. E que a única coisa que importa no fim do dia, é a minha felicidade.