Indomável | As vezes tudo o que precisamos é dar valor àquilo que já temos

Livro não indicado para menores de 18 anos, por conteúdo sexual explícito. 

“Você deve esquecer o que nunca teve… e deve ir atrás do que perdeu… mesmo que tenha que rastejar na lama para conseguir isso.”

A expressão representa perfeitamente a trajetória percorrida por Griffin Hancock, ex-guitarrista da maior banda de rock do mundo – D-Bags -. Uma caminhada repleta de amadurecimento e redescobrimento que pode inspirar mudanças significativas em muitos leitores.

 

“Isso mesmo, Onnie! Quando a vida caga na sua cabeça, muitas vezes você precisa ser o seu próprio super-herói.”

Quem já leu a trilogia Rock Star de S. C. Stephens e conheceu Kellan Kyle – o sensível e solitário vocalista dos D-Bags, que em razão de uma infância de desprezo e maus-tratos nunca havia sentido como era ser verdadeiramente amado até encontrar a jovem Kiera -, sabe o talento que a autora tem para criar personagens complexos e profundos. Eles são, em muitos aspectos, construídos de forma bem próxima da realidade, o que cria um vínculo com o leitor. E isso, como na história de Kyle, ficou bastante evidente em Indomável.

Desde que Griffin se lembra ele é amigo de Evan, Kellan e Matt, com eles criou uma banda, alcançou o auge da fama e realizou o sonho de se tornar um rock star. Isso até que estar no topo do mundo, como quarto membro da maior banda de rock, e a posição de baixista não eram mais o suficiente para alguém com seu talento.

A história do personagem, na mais nova obra de S. C. Stephens publicada no Brasil, pela editora Valentina, começa mostrando o descontentamento de Griffin com as atividades que desempenha na banda e alguns conflitos entre os seus integrantes que, gerados por esse sentimento, desencadearam em sua decisão de deixá-la. A partir desse ponto, ela segue dando enfoque à sua busca individual pelo sucesso, às consequências e mudanças acarretadas por suas ações. Ao fim de seu sonho, de toda uma vida construída, e por último, para uma jornada de autodescoberta e procura de remição.

Indomável 1

Com uma narrativa que trata sobre o amadurecimento e incentiva reflexões sobre nossas atitudes, sentimentos e características que podem ser nocivas, mas principalmente ensina a dar valor ao que possuímos antes que possa ser tarde, a autora tem o capricho de trabalhar cuidadosamente com a construção de cada etapa do crescimento de Griffin e do livro.

A princípio o personagem é um pouco repetitivo em sua arrogante, e mesmo que esse constante enaltecimento seja feito de forma cômica, acaba se tornando um aspecto cansativo do personagem, o que faz com que a obra de início seja levada de maneira mais arrastada. De fato como acontece quando mantemos um longo contato com pessoas com tais características. No entanto, com o decorrer do livro e as mudanças que Griffin sofre depois de aceitar seus erros e defeitos, é possível se identificar mais fortemente com ele. Você passa a entendê-lo e até a torcer para que as coisas em sua vida melhorem.

“Quanto a Kellan, ele era… bem, muitas garotas achavam que ele o princípio e o fim de todas as imagens de perfeição masculina. Nada disso, desculpem, meninas. Ele não era. Aquela mandíbula forte, os olhos azuis profundos e os cabelos recém-bagunçados não eram nada de especial. Ele certamente tinha os músculos muito definidos, mas seu corpo era bem “mais ou menos” comparado ao meu. E minha arte corporal tornava minha pele muito mais interessante do que suas linhas retas e esculpidas. Podem crer . Seu abdômen parecia ter sido pintado em 3D com tinta. Eu tinha lido isso em algum lugar e acreditava totalmente nessa descrição. Kell não costumava malhar tanto assim para ter toda aquela definição muscular.”

A maior parte dos personagens, desde o próprio protagonista, sua esposa Anna, suas filhinhas e familiares, é muito bem construída e a isso se deve a grande aproximação que criei com o baixista. Acompanhar sua relação com Anna, as filhas – a lealdade e o amor que ele inspira nelas – e seus familiares, é algo que faz com que o levemos em mais alta estima. Podemos vê-lo através de outros olhos, mesmo quando a história é narrada em terceira pessoa e é unicamente focada nele.

Indomável 2

Indomável me possibilitou um bom momento durante sua leitura, eu me diverti, sofri e torci com e por Griffin. O livro me ajudou a refletir sobre minhas próprias atitudes, me lembrou de que não devo apenas olhar ao meu redor, mas enxergar e valorizar aquilo e aqueles que tenho a sorte de possuir e conhecer, porque muitas vezes nos focamos tanto em conseguir aquilo que achamos merecer, que nos esquecemos do que verdadeiramente importa.

Apesar de ter feito um excelente trabalho, com personagens marcantes, reflexões pertinentes, além de abordar uma questão bastante delicada acerca de como o favoritismo de um único membro de uma banda, pela mídia e pelos fãs, podem causar grandes conflitos e fazer com que os demais membros se sintam desvalorizados – algo que as pessoas deveriam pensar mais vezes, já que o trabalho de uma banda é o reflexo de um trabalho em equipe, e uma jogada criativa com os nomes dos capítulos do livro.

S. C. Stephens, para mim, não conseguiu superar a trilogia principal que narra a história de Kellan e Kiera. Nos três primeiros livros, onde conhecemos pela primeira vez a banda, a autora conseguiu criar uma sensibilidade e uma história de amor tão real – envolvendo mágoas, alegrias e o verdadeiro significado de se construir um relacionamento através de ações, honestidades, erros e acertos -, que é difícil de esquecer.

 

INDOMÁVEL

AUTOR S. C. Stephens

TRADUÇÃO Renato Motta

EDITORA Valentina

ANO 2017

PREÇO de 30 a 40 reais

 

Nerd: Ana Giese

A louca com compulsão obsessiva em comprar livros e estudante de jornalismo! Que ama Harry Potter, se apaixona constantemente por personagens fictícios e passa 14 horas assistindo Netflix. Pelo menos sabe precisar de uma visitinha ou duas ao psicólogo!!

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