Eu comecei a assistir Sons of Anarchy por pressão. Pura pressão social. Todo mundo falava bem da série, quando não adorava ao ponto de ter camisetas da SAMCRO ou ícones do Charlie Hunnam no Twitter, então, armado do meu puro desgosto e má vontade, fui assistir os primeiros episódios e encontrei foi absolutamente nada, e isso se estende pela primeira temporada. A primeira temporada é intragável, não te ajuda em nada e é mais provável que você goste de qualquer pessoa, menos do protagonista em si, já que Jax até essa temporada muito pouco tem a dizer ou a fazer. A verdade é que provavelmente iria abandonar a série na segunda temporada, até alguém me dizer ‘’Melhora por aí. Confia. ’’.
Confiei e apesar da viagem tortuosa, de estradas monótonas no começo, das árvores secas e do deserto interminável com intervalos com músicas boas, só quando estava perto de chegar ao meu destino pude dizer com toda a certeza que Sons of Anarchy não é a melhor série de todos os tempos. Não é Breaking Bad, não é um Mr. Robot, mas é inegável que é uma obra singular e se não está entre as dez melhores obras da ficção atual, está numa lista maior, assim como Jax Teller talvez não seja o melhor protagonista da história da TV, mas é um dos poucos que possuem duas coisas que, hoje em dia, parece meio perdido entre tantas produções: Coração e Visão.
Protagonistas, em sua maioria, são homens de ação, personagens que constantemente estão agindo ou reagindo a algo em busca de um algo maior. Um objetivo, uma meta, alguma coisa que lhe dê proposito. Mas um objetivo não é uma visão. Uma visão é olhar para o futuro e o que você quer que ele seja. O que ele deve ser e então, buscar aquilo. Jax Teller, herdando o desejo de seu falecido pai, que deixa a visão dele sobre o clube em um manifesto, quer algo tão claro quanto palpável: Que seu clube deixe de ser a respeito de dinheiro e seja novamente sobre irmandade. Se seu clube continuar no negócio de armas, ele vai quebrar em algum momento e isso vem no segundo que seu filho, Abel, nasce. Ele precisa lidar com o peso de ser um pai e um motoqueiro, assim como John Teller teve de enfrentar.
Mas como Sons lida com isso, apesar do seu jeito torto e durante suas primeiras temporadas, morno, acaba construindo um personagem que, sua visão e seu desejo altruísta ora está aliado ao seu coração, e não se deixe enganar, a série faz questão de mostrar que Jax tem um código de conduta e ética muito bem definida, mas perde para outra ambivalência que reside dentro do mesmo coração que lhe faz querer tanto ser um bom pai e um bom líder: Raiva. Uma raiva tão enraizada que lhe faz perder sua visão do clube ideal e lhe faz tomar escolhas duvidosas, mal pensadas e muitas vezes, pelas costas dos seus ‘’irmãos’’.
Todos esses aspectos, em união, tornam Jax um personagem real, palpável, muito mais próximo do que qualquer publicitário que tem tudo sob controle ou um líder de gangue genial e igualmente violento. Durante o percurso que Sons faz tal personagem ganha contornos, ambições, pretensões, dramas e até ares poéticos quando é sua vez de passar pro papel seus pensamentos.
No fim, estou escrevendo por um motivo bem simples: Quem me ouviu dizendo que Sons of Anarchy não passava de uma novela, não retiro o que disse, em momento nenhum, mas é uma das poucas ‘’novelas’’ que lhe recompensa pelo tempo investido ao longo de sete temporadas e com um final que ouso dizer é perfeito do seu inicio ao instantes finais (tirando o CGI horroroso). Jax Teller viverá um bom tempo na minha memória e acredito que ainda vive na memórias de muitos.
Vida longa a SAMCRO.