A sensibilidade versus a lógica na cultura pop.

A cultura pop não é mais a mesma, por mais que muitos insistam em voltar aos primórdios do tempo. Temas como diversidade, representatividade, sociedade, política e filosofia cada vez mais tomam parte em quase tudo que consumimos, tudo tem um fundo político, uma crítica social foda, uma mensagem para dizer, seja ela qual for e se for algo envolvendo niilismo, vazio existencial, drogas e uma porrada de palavrões ditos por um personagem bêbado/possivelmente chapado é suficiente para fazer pessoas ‘’inteligentes’’ e ‘’adultas’’ terem orgasmos múltiplos e contínuos porque, como já disse, são inteligentes demais para estarem consumindo algo simples e despretensioso. Mas até que ponto estamos esquecendo o porquê continuamos consumindo diversas mídias (animações, filmes, séries, quadrinhos, livros e cultura, seja ela pop ou não) durante tantos anos e que acaba sendo indiretamente nosso motriz e, pra muitos, um meio de se expressar?

Abra seu youtube e procure ‘’teoria’’. Só isso, não precisa colocar mais nada. Não quer ou não pode? Tudo bem farei isso por você e vou deixar aqui para que possa ver os resultados. Não satisfeito, vou pesquisar duas vezes distintas.

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São somente vídeos sobre cultura pop. Turma da Mônica, Pixar, Rick and Morty (com um click-bait safado), todos tendo o mesmo mecanismo: Usando de provas circunstanciais e de interpretação pessoal de cada um para justificar, e tem um dentre estes que só é um vídeo de curiosidade/explicação. Mas tudo bem, vamos dizer que eu fui muito específico (e de fato fui), então vamos pra algo mais simples e menos direto. Pesquise só o nome do desenho favorito da molecada atualmente.

Direi os primeiros, que eram: As duas primeiras temporadas completas da série, a música Hurt na versão do Nine Inch Nails (?) e aí, entram as teorias da série, seguida de uma lista de episódios polêmicos. (Fique a vontade pra pesquisar, eu fiz. Duas vezes. Alteram alguns vídeos, mas são sempre os mesmos tipos.)

Tudo bem, Rick and Morty é uma série de sci-fi, o gênero é famoso por ter teorias e filosofias para explicar o universo que ele habita e sobre o que ele fala, vamos com um que em tese, é mais leve, BoJack Horseman.

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E cá estamos. Mais teorias e admito, são de canais que gosto, principalmente o primeiro que me inspirou a escrever esse texto, mas ainda assim, mais e mais pessoas explorando a lógica e filosofia.

Todavia, se você pesquisar Hora de Aventura e Gravity Falls, séries também animadas que em tese não são ”adultas”, além de episódios espaçados (e obviamente infringindo a lei de direitos autorias, mas quem nunca viu isso que atire a primeira pedra), também tem mais teorias. Até creepy pasta.

Mas aqui cabe a pergunta de ouro: ”Qual o problema desses vídeos?”

Não há problema. Não só isso; esse tipo de conteúdo em especifico é necessário para quem deseja entender melhor sobre o que está consumindo, além de ser entretenimento. O ponto onde, de fato, mora um problema é na seguinte pergunta: O que isso significa? Afinal, Youtube é a plataforma mais utilizada nos últimos tempos e se essa constante é a primeira em busca, deixando no topo aquele com mais views, algo tem que significar na forma como pessoas estão consumindo essas obras.

Desde que Rick and Morty veio a se tornar mainstream e um exemplo do que ‘’uma série animada adulta deve ser’’, mais acentuada ficou essa necessidade de fundar seus gostos dentro de coisas como filosofia e encontrar coisas que interliguem com as outras, que são as famosas teorias, mas para quê? Aparenta ser uma necessidade de se sentir mais ‘’inteligente’’, em sua grande maioria, uma necessidade de justificar que as coisas que consome são para ‘’adultos’’ e subsequentemente, isso lhe torna mais esperto ou que seu gosto é melhor, quando na verdade não é a filosofia dentro dessas obras que são foco de seus enredos. Não estamos falando de uma série feita por um filósofo. Estamos falando de contadores de história, de pessoas que estão contando algo por uma vontade de transmitir não só pensamento e ideias, como emoção e empatia, e não tendo noção disso, pessoas perdem os momentos onde essas séries, principalmente Rick and Morty e BoJack Horseman, realmente brilham, que são em seus momentos sensíveis. E isso não se diz só a respeito de séries animadas. Filmes também andam sofrendo disso e até demais, os quadrinhos também, por um tempo extenso e ainda continuam.

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Algo ‘’adulto’’ significa maduro, significa tratar personagens e a história de forma séria, de falar com alguém em nível não só intelectual como sentimental. E é por isso que cada vez se vê em voga coisas como ‘’O niilismo de Rick and Morty’’ e ‘’BoJack e o Vazio Existencial’’. Não é porque essas séries em particular se tornaram populares e esses assuntos, em consequência também – que agora todos são ‘’niilistas’’ e sofrem de ‘’vazio existencial’’. Isso é algo que todos nós, principalmente a geração ‘’Millennials’’ anda sentindo e a cultura pop não cria isso, somente ressalta ou acha que Fight Club é só sobre anarquismo e uma crítica contra o capitalismo?

O fato de uma série ter niilismo, suicídio, drogas, palavrões e vazio existencial não fazem desses temas centrais. Muitas às vezes, são somente artifícios para construir um personagem e mostrar como tal coisa lhe influencia e o move. O personagem Rick Sanchez é, segundo bons vídeos aí, um exemplo perfeito do niilismo e com isso, só mostra o quão infeliz ele é, o quão miserável isso é, enquanto em contra partida, o personagem mais ‘’burro’’ da série, Jerry Smith, é frequentemente visto como alguém incrivelmente mais feliz e satisfeito consigo mesmo e com os outros. Constantemente a série brinca com isso e mostra os personagens percebendo essa ‘’falta de sentido’’ na vida, e com isso, achando sua própria felicidade e os ‘’sentido’’ de suas vidas. A mesma coisa acontece com BoJack Horseman, que mesmo quando ele mostra o quão vazia e superficial a vida pode ser, personagens como Diana Nyguen que constantemente está mostrando para o BoJack que, se ele quer ser de fato uma ‘’boa pessoa’’, ele deve tomar escolhas melhores, optar por uma mudança e só porque existe um vazio, não quer dizer que isso seja necessariamente ruim.

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Não obstante, cabe aqui dizer algo que acaba acontecendo com essa vibe atual: Ninguém mais tem permissão para ‘’não saber sobre o que se trata’’ ou ‘’Se você não sabe sobre o que tal coisa fala você é burro e não entendeu isso’’, e isso é estúpido. É completamente aceitável que pessoas não cheguem a esse ‘’segundo e/ou terceiro nível’’ e simplesmente gostem da obra porque se envolveu com ela emocionalmente, afinal, esse é o propósito de qualquer obra de ficção. Qualquer intelectualidade que não acrescente nada para o emocional daquela obra, porque no final o que importa, além de pensar a respeito, é fazer o público ter algum apreço. Você não gosta do Rick Sanchez porque ele é um gênio da ciência e um bêbado 100% do tempo, você gosta porque está emocionalmente atrelado àquele personagem e se identifica com ele.

Histórias boas, as que perduram conosco pra sempre e pode notar isso, não são o que são porque elas são ‘’inteligentes’’ e tampouco são ‘’adultas’’, mas porque usam da intelectualidade para falar em um nível mais íntimo e da maturidade para tratar de um assunto de forma série, sem clichês e estereótipos e é por isso que Blade Runner, Rick and Morty, BoJack Horseman e tantas outras obras são boas. Não só por causa das teorias, tampouco somente pela filosofia, mas pelo que nos fazem sentir e por servirem de exemplos, algo que a ficção faz e entrega aos montes, e de exemplos, andamos precisando desesperadamente.

Nerd: André Arrais

Pseudo-Cult, apreciador de café, ama quadrinhos como ninguém, rato de biblioteca, gamer casual, não sabendo tirar selfie desde sempre e andando na contra mão dos gosto populares. Finge é cheio de testosterona, mas vive rodeado de gatos. Esse é o meu design.

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