Fomos convidados para a estreia dos dois últimos filmes da “Trilogia da Vida Real”, do produtor e diretor Edu Felistoque.
A “Trilogia da Vida Real” foi criada há 25 anos, segundo Edu Felistoque:
“A trilogia começou há 25 anos, quando eu trabalhava como repórter cinematográfico, documentários policiais e tal, e aí que eu começo a ter um mergulho de quem somos nós, o mundo do crime e o mundo policial, entender um pouco a verdade. E aí, os anos foram passando e eu começo a escrever sobre essas experiências, porque todas as histórias que a gente vê na trilogia, elas existiram de verdade, todas as personagens que estão nos filmes são reais. Mas é uma copilação de várias histórias para costurar tudo.
A sensação é muito interessante, pra mim é de entrar no set e saber que tudo aconteceu. O Hector, o Toro, a delegada Diana existiram e ainda existem, com outros nomes, mas passando por esses perrengues que foram mostrados. O que mais me chama atenção é a humanização do bandido e do policial, porque não tem ninguém que é totalmente do mal ou totalmente do bem, depende da condição que ele está passando. A gente tenta entender o ser humano, o poder do ser humano. Quem é o algoz e quem não é. O tempo, todos (bandido e policial), estão doentes, a “Trilogia da Vida Real” prega isso: entender a vida real.
São três filmes que são ligados, mas que não necessariamente precisa assistir na ordem, eles são aberto a múltiplas interpretações. Se você muda a ordem você tem outra visão da mesma história. A ideia é você montar as fatias dos filmes e concluir a essência de cada um.”
Mesmo o diretor nos contando que a ordem não importa, vou contar qual é para quem interessa e para organizar as ideias, hahaha!
O primeiro filme foi “Insubordinados”, que estreou em março de 2015 e apresenta Janete (Silvia Lourenço), que opta pela arte como ferramenta para modificação e fuga de sua realidade cheia de angustia e sofrimentos. A atriz, além de ser a protagonista, também assinou o roteiro.
Contudo, vamos falar mais sobre o que eu vi ontem: “Hector” e “Toro”.
O segundo filme da trilogia é “Hector”, com argumento e direção de Felistoque e roteiro de Meloni, além de Sergio Cavalcante e Rodrigo Brassoloto no elenco. A história é um misto de drama e suspense psicológico e uma pitada de terror. É apresentada para nós a vida de Hector, o protagonista problemático, um “ex” alcoólatra que era integrante do corpo policial e estava investigando uma série de assassinatos.
Hector vive em uma angústia não linear, e nós, espectadores, viajamos pelo seu presente e passado, tentando compreender esta tão complexa e tortuosa vida.
A trama é um pouco lenta, cheia de planos fechadíssimos que fazem a gente entrar, ou pelo menos tentar entrar, na mente das personagens perturbadas e perturbadoras. A trilha não tem muito destaque, as cenas, às vezes, são um pouco caricatas, mas tudo parece proposital, para dar um ar trash ao longa.
Gostei do filme “Hector”, ele é meu favorito da trilogia, pois é o mais tocante em amplo aspecto. É meio aquela história de quem é a vítima e quem é o vilão, trazendo pequenas notas referentes a Crime e Castigo de Dostoievski. Acho o mais possível em minha realidade, apesar de todos os casos terem existido.
Para fechar a trilogia, chegamos em “Toro”, com argumento e direção de Edu Felistoque e roteiro de Júlio Meloni. No elenco, estão nomes como Rodrigo Brassoloto, Naruna Costa e Sergio Cavalcante. Nele, o foco é Carlão (Rodrigo Brassoloto), mais conhecido como Toro, que leva uma vida completamente atormentada pelas lembranças da vida no crime. Após ter sido afastado da corporação e preso, ele foi solto e agora se sustenta trabalhando como motorista de táxi. Mesmo tentando, encontra dificuldades em enterrar sua antiga imagem, sendo esta a única possibilidade de seguir em frente.
A trama reúne múltiplas interpretações de temas atuais. Uma das camadas é a intolerância. A personagem central se mantém em fuga de sua própria condição, oprimindo seus mais íntimos desejos através da falsa imagem de violento lutador.
É um filme violento, dramático e viceral, parece ter sido feito para incomodar. Os planos fechadíssimos são também encontrados aqui, a intenção é tentar entender o que passa lá no mais íntimo dessas personagens. É o mais dinâmico dos três filmes, e a trilha acompanha essa maior ação.
Confesso que a violência dele me incomodou em alguns momentos, mas acho que o diretor ficaria feliz em ler isso, parece ser proposital. É um filme escuro na fotografia e isso conversa bem com a vida conturbada e problemática do personagem. Ele tem um pouco de suspense, mas o drama e a ação predominam. Acho que esse é o filme da trilogia que mais tem chances de agradar a todos.
Como a aura de mistério é que traz a graça, não contei muito sobre as histórias senão o spoiler ia ser dado sem querer, hahaha!
São filmes nacionais de qualidade. Super indico a ida ao cinema para lê-los, principalmente os fãs de mistério e suspense psicológico, vocês vão gostar!
Os filmes estrearam dia 24 de novembro de 2016.
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