Pare pra imaginar, mesmo que um minuto nessa seguinte proposta: Durante 12 horas, em apenas um dia do ano, todos os crimes são permitidos, incluindo assassinato, uma forma legal e autorizada pelo governo de extravasar toda a crueldade que ser o humano por natureza parece portar. Conceitualmente, um enredo desses vai acabar sendo uma história pendendo para um lado político, afinal, em tempos onde a discussão do controle de armas nos Estados Unidos e tantos massacres anuais e Uma Noite de Crime (The Purge) vem com essa proposta, trazendo James DeMonaco como diretor dos três filmes.
Uma Noite de Crime
Montar o filme em cima de clichês sempre se trata de oito ou oitenta. Ou termina em um filme morno e sem graça, ou seus clichês são usados de uma forma alternativa que agrega sabor a receita, e DeMonaco decidiu brincar com isso, escolhendo como os ‘’sobreviventes’’ daquela noite, uma família de classe média alta composta pelo Ethan Hawke, homem de negócios que ascendeu socialmente graças ao American Way of Life, Lena Headey a dona de casa, e dois adolescentes estereotipados ao extremo, em tese, é a receita perfeita pro filme morno, correto? Não exatamente. Pois para a crítica desse filme funcionar, essa família será exposta ao massacre dessa noite graças à presença do homem desconhecido negro e pobre, que é justamente a maior vítima dessa noite.
O filme é uma sátira, essa é a melhor forma de expor o filme, uma piada extremamente ácida aos costumes americanos envolvendo armas, tendência à violência e acima tudo, a própria necessidade exacerbada em torno da segurança.
Mas não espere um grande filme, existem recursos de roteiro extremamente preguiçosos ali, bastante preguiçosos por sinal, como pessoas sendo esquecidas por um tempo exagerado de tempo, eletricidade sendo cortada apenas porque deve ser legal deixar as pessoas perambulando no escuro e tiros vindo de uma terceira pessoa. Isso sem contar nas atuações medianas para fraca provindo de todos os atores, sem exceções.
Uma Noite de Crime: Anarquia
Com o sucesso relativo do primeiro filme, a verba entrou no bolso de DeMonarco, que decidiu produzir logo sua sequência, Uma Noite de Crime: Anarquia, que decide deixar o clima de suspense restrito à uma casa para sair as ruas na hora da loucura, provendo uma visão ainda mais violenta da chacina anual que se já antes ganhava um ar conservador por se tratar de um ritual quase religioso, agora ultrapassa esse nível, mas o grande problema desse filme, além dos típicos clichês de qualquer filme de ação, é o seu maniqueísmo.
Antes, tínhamos uma família tentando se proteger de jovens, ricos e desocupados cujo grande prazer era assassinar mendigos, temos agora protagonistas nobres ou suficientemente azarados para terminar na rua justamente quando é anunciada que o expurgo, como é chamada a noite, começa. Simples assim. Um homem forte buscando vingança, uma mãe solteira e pobre que precisa sobreviver com sua filha adolescente, junto com o casal preste a enfrentar um divórcio.
Começa ruim, certo? Certo. Voltando aos clichês. Eles voltaram, com sua força potencializada e sem vergonha de ser feliz, com todos os tipos que sempre vai haver em filmes de ação ou suspense, mas toda a graça do sadismo natural do primeiro filme é trocado por tiroteios, o que não é uma troca justa para o enredo, mas para um passatempo? OK. É só mais um filme slasher que adoramos consumir pelo prazer da violência gratuita e segura.
Por mais que ainda haja pontos políticos interessantes, como o surgimento de um líder anarquista e outra visão dessa noite provinda de quem está fora de casa, o que é sempre bem-vinda, acaba caindo em uma moralidade idiota e segura, não abraçando o que seu antecessor havia estabelecido, todavia, é uma evolução, mesmo que fraca.
12 Horas Para Sobreviver: Ano da Eleição
Leo Barnes (Frank Grillo), também conhecido como o Homem Atrás de Vingança do Segundo Filme retorna, como segurança da candidata democrata à presidência Hilary Clinton Charlie Roan, que sobrevivente de uma das noites do massacre, questiona a verdadeira intenção do Expurgo, que serviu para salvar o país de uma crise aquecendo o mercado que os americanos mais amam: Segurança e Armamentista, contra seu oponente conservador Donald Trump que traz em seus discursos, um tom sádico mascarado de bons valores familiares, patriótico e religioso. Sim, 12 Horas Para Sobreviver: Ano da Eleição (Precisava de um título tão longo?) decidiu que seria mais sério dessa vez e deixar muito bem clara sua posição política, agora sim, mostrando pro público quem realmente ganha em cima dos expurgos, quais populações são mortas e evidenciando o racismo escondido por trás dessa noite.
Mais uma vez, a franquia se ‘’renova’’, nossos protagonistas só pegam em armas se necessário, apesar de ainda haver certo sadismo por trás das mortes…
Veredito:
Estamos em ano de eleição (trocadilho intencional) americana, e estamos falando justamente sobre segurança e controle de armas, ainda estamos discutindo assuntos velhos da democracia americana, estamos em ano de Black Lives Matters, esses são temas que estão sendo extensamente sendo discutidos e arte ainda sim, é uma peça política, ainda é uma forma de passar conteúdo de teor político, seja ele qual for e não importa como, e por isso, a franquia Uma Noite de Crime (São dois filmes com esse nome contra um, a maioria vence) vem tomando rumos interessantes, mesmo que uma romanização na violência há um crescimento na sua proposta que, de começo era uma boa desculpa, no segundo filme se é perdido e no terceiro, veste a camisa dos democratas e faz seu discurso político único. The Purge não se trata de longas metragens vazias, apenas não encontrou a pessoa certa para fazer valer essa proposta tão atual.
Deus abençoe a América e os Novos Pais Patriotas, uma nação renascida.
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