Y: O Último Homem | Uma crítica ao radicalismo

Na ficção, todas as sociedades formadas apenas por mulheres são geralmente retratadas tanto como reinos perfeitos onde a guerra e a intolerância foram completamente eliminadas, ou como impérios fascistas governado por lésbicas que odeiam homens. Estes mundos sem homens quase nunca refletem a complexidade e diversidade das mulheres reais”.  – Brian K. Vaughan

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No verão de 2002, cada cromossomo Y em todos os tipos de animais foi destruído, eliminando 48% da população global. 48 milhões de homens mortos, 99% dos mecânicos, 85% dos representantes governamentais e 100% dos sarcedotes católicos, mulçumanos e rabinos foram extintos. Esse é o cenário que Brian K. Vaughan e Pia Guerra propõem em Y: O Ultimo Homem, uma humanidade sem homens, menos um rapaz e seu macaco.

Criado em 2002 pelo selo de quadrinhos adultos Vertigo (resultado de uma novo fôlego a editorajunto com Fábulas), acompanhamos Yorick  Brown: um babaca com bom coração, recém formado em Letras, com habilidades para artista de escapada, além de piadista fora de hora (o que é ótimo pro leitor)  e seu macaco de estimação, Ampersand, que acaba por enfrentar o “apocalipse” junto com a Agente 355, e a Dra. Alison Mann, na busca pela cura da praga e de quebra, resgatar a noiva de Yorick, Beth.

A obra de Vaughan, já considerada um clássico pelo New York Times e vendedora de um Eisner, é construída na falsa crença de que se um gênero for exterminado, no caso o masculino, uma utopia seria instaurada ou uma ditadura por misândricas, acaba  sendo contada por 5 visões diferentes. Por Alter (uma coronel israelense), Agente 355 (a ‘’segurança’’ de Yorick), Alison (a cientista que pariu um clone de si mesma), Yorick e pela mãe de Yorick (uma congressista democrata).

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O universo de Y é altamente distópico, onde as mulheres tem que enfrentar problemas devido a falta de homens em alguns serviços da sociedade. Não só isso, lidarem com a perda de entes queridos e a realidade de que poderão ser a última geração de seres humanos e há aquelas que lidam com a situação de forma radical, como um culto que há em cima de obelisco por conta do formato fálico ou como Victoria, uma exímia xadrezista, líder de um grupo misândrico, as Amazônas.

Tudo dentro de Y é uma crítica a radicais, ao tratamento que as mulheres recebem na sociedade atual e mesmo nessa sociedade onde o racismo, a discriminação e a violência continua tão viva quanto antigamente, na época aonde os homens ‘’dominavam’’ a Terra.

Y conta com a narrativa pouco linear, podendo começar pelo meio ou pelo fim, logo retornando ao início, recurso este utilizado em demasia, tornando a leitura repetitiva ao longo das 60 edições, mas se tem algo que Brian sabe fazer são cliffhangers (as pontas soltas) que deixam cada final de capítulo mais e mais impactante. Entretanto, existe  os rumos estranhos tomados pelo roteirista, que vai criando hipóteses malucas para a origem da praga e pela sobrevivência de Yorick, mas verdade seja dita, o final se salva e não calha de colhões, suficiente para exclamar um ‘’Puta que pariu’’.

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”Sério, você é o único pau na terra. Como você ainda não transou com nenhuma garota nesse tempo?”

Yorick não é um herói estereotipado, tem atitudes idiotas e comportamentos impulsivos, não tem uma moral ou ética definida e não é seguro de si, não terminando Y da mesma forma, o que é ótimo. Assim como Agente 355, que é uma agente secreta, que não é só uma guia para Brown, mas sua guardiã e não deixa de ser fodona, apesar de ao longo ir demonstrando suas fraquezas, tornando-se a melhor personagem da HQ.

E ainda temos Alison Mann, que acaba sendo a ‘’chata’’ do grupo, não tendo muita paciência com Yorick ou Ampersand, entretanto, conforme a história avança e se descobre mais sobre o passado dela, acaba-se tornando uma personagem fortíssima dentro do enredo. Todos os personagem, até alguns secundários, tem backgrounds bem contados, tornando tudo ainda mais interessante e aprofundado.

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A arte de Pia Guerra é extremamente bem feita, principalmente com a paisagem, mas peca ao repetir certos formato de corpos para mulheres, não havendo uma diversidade de anatomias femininas, sendo todas ‘’Barbies’’. Mas a presença visual dentro do enredo é desnecessária, sendo facilmente convertida para um livro ou uma série de livros.

Com uma possível vinda de uma série (ainda sem escalação de atores ou previsão de estreia de um piloto) e a crescente discussão sobre igualdade de gênero, racismo, discriminação, a aventura do último homem da face da Terra recheada de easter eggs à cultura pop e a Shakespare é irônica, afinal é um mundo cheio de mulheres e o herói é o homem! A busca de Yorick traz discussões pertinentes e precisas, seja pra 2002 ou pra 2016.

(E se achar todos os Y escondidos nas capas e no próprio quadrinho, me avise, por favor!)

Nerd: André Arrais

Pseudo-Cult, apreciador de café, ama quadrinhos como ninguém, rato de biblioteca, gamer casual, não sabendo tirar selfie desde sempre e andando na contra mão dos gosto populares. Finge é cheio de testosterona, mas vive rodeado de gatos. Esse é o meu design.

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