Capitão América: onde está a Guerra Civil?

Esse texto é uma continuação ‘”espiritual’’ da resenha do Guilherme Vares, confira lá!

“Steve Rogers (Chris Evans) é o atual líder dos Vingadores. O ataque de Ultron fez com que os políticos buscassem algum meio de controlar os super-heróis, já que seus atos afetam toda a humanidade. Tal decisão coloca o Capitão América em rota de colisão com Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem de Ferro.’’

Toda vez que Guerra Civil é citada, algo de importante muda no status quo da Marvel e isso é inevitável. Criada por Mark Millar e Steven McNiven, a proposta do grande arco que permaneceu por anos ditando os rumos de personagens chaves, era a de uma discussão envolvendo Capitão América e Homem de Ferro. Entretanto, para se entender o que é esse filme (e porque ele falha miseravelmente em sua proposta essencial), é necessário saber o que é Guerra Civil nos quadrinhos e porque esse filme viu a luz do dia.

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Em 2006/2007, época onde  George W. Bush (Jr) ainda era presidente, haviam-se discussões intermináveis não só sobre o destino do país (Direita ou Esquerda/Republicanos ou Democratas), mas sobre o registro de armas, que por ser responsável pelo alto indicie de massacres, tinha-se criado a discussão se as armas deveriam ter uma fiscalização maior ou não. Mark viu isso e decidiu levar essa discussão aos quadrinhos, utilizando-se da desculpa de um grupo de adolescentes irresponsáveis, criando um atentado por acidente em uma creche infantil, e assim o povo começou a clamar por maior segurança e vigilância sobre os próprios vigilantes, afinal já dizia o poeta romano Juvenal: quem vigia os vigilantes? Essa discussão é levada do começo ao fim, tendo seus momentos de luta, entretanto, o foco ainda é (e sempre deve ser) a discussão ideologia de dois grandes homens defendendo seus pontos de vista, apesar da própria HQ forçar seu ponto de vista,  manipulando-o e distorcendo alguns personagens para adquirirem viés vilanescos, o debate ainda é aberto, mesmo após o final (e o prólogo sensacional!).

Entretanto, antes de Capitão América 3 sequer ter um nome oficial, a DC – que já tem uma longa pista a correr se quiser competir nesse mercado –  anunciou formalmente que o próximo filme seria o maior confronto de todos os tempos, e segundo notícias, isso impulsionou que o roteiro semi pronto fosse colocado no contexto da HQ, todavia, qualquer um com o mínimo de experiência em criar histórias, sabe que unir duas histórias numa só, numa mídia que te restringe bastante não é só complicado, como difícil de agradar ambas as partes. Algo se perde, principalmente num arco tão importante como esse, que poderia ser facilmente adiado para o futuro e dividido em dois filmes para poder contemplar todas as suas possibilidades e aprofundar com zelo cada âmbito dela.

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Fazer uma adaptação de Guerra Civil exige tempo, aprofundamento, debate e acima de tudo cuidado, mas não ocorre nada disso no filme, é problemático, e está longe de ser apontado, o melhor filme de todos.

De início temos uma operação comandada pelo Capitão América em Laos, envolvendo uma arma biológica (Olha! Esse detalhe interessante. Não é mais utilizado no resto no filme) e a Hydraque depois de The Winter Soldier, só serve de bucha de canhão para justificar seja lá o que eles quiserem fazer. Sendo assim, Steve Rogers, Viúva Negra, Falcão e Feiticeira Escarlate tendo um ótimo trabalho de equipe, demonstrando que o espaço de tempo entre Age of Ultron > Ant Man > Civil War foi suficiente para essa equipe criar entrosamento, são chamados para resolver a questão. Mas tudo culmina numa tentativa de Ossos Cruzados (tão legal nos quadrinhos…) de matar Rogers por meio de um ataque suicida sendo frustrado por Wanda. Entretanto, por um erro, ela acaba levando a explosão à um prédio comercial, matando pessoas no meio do conflito.

Esse é o ponto de partida. Tony Stark reconhece seus erros ao ‘’privatizar a paz mundial’’ (Oi Iron Man 2!) e movido pelo dever e reflexo de seus atos, decide que o Acordo de Sokovia, que coloca os Vingadores sob a tutela da ONU é algo válido, sendo apoiado por Natasha e o coronel James Rhodes (Máquina de Combate), entretanto Rogers aponta a retirada de liberdade da equipe, além do fato de se estar jogando a culpa para outros ao invés de se assumir.

Boa discussão, certo? Pegou alguns ângulos que nem a própria história em quadrinhos contemplou, entretanto, dentro dessa história surge a figura do Soldado Invernal.

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A discussão primordial que tinha enorme potencial é morta rapidamente, sendo levado até o atentado em Viena causado supostamente por Bucky Barnes, o que muda completamente a figura do filme, consistindo em Time Capitão correndo atrás do culpado (Helmut Zemo) e o Time Homem de Ferro atrás de prender os heróis (viu a sutil manipulação?). A partir desse ponto a discussão morre de vez, ou seja, jogamos fora a proposta da HQ e do próprio filme que era promover um debate, isso é, até os 45 do segundo tempo, aonde um novo fato lhe é jogado no colo do telespectador e a discussão muda completamente de foco, virando algo similar a: Bucky Barnes, culpado pelos crimes durante cobaia da Hydra ou não? (ah, ele também não ajuda muito a aliviar a barra, mas tudo bem…)

O filme é bom, têm cenas de ações formidáveis! O Pantera Negra (a cena da perseguição dele é fabulosa, ou a luta dele no aeroporto contra o Bucky que é sensacional) está espetacular e o Aranha é formidável (Tony Stark cantando a Tia May, hm?). Temos um Homem- Formiga melhorado e até melhor que no seu próprio solo! São dois personagens completamente fora desse filme, mas te dão a curva perfeita pra não só rir de ambos, mas mostrar a própria ‘’fragilidade’’, isso sim foi revigorante. Os novos personagens são bem apresentados, bem utilizados e logo ganham a empatia do público, o que constitui um ótimo ponto para o Universo Marvel, afinal, estamos batendo na porta do ano onde o (REI) T’Challa e o novo Homem-Aranha estão para ganhar filmes próprios no ano que vem.

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Entretanto, temos um vilão fraco. O plano de Helmut é criar uma rixa no time, plano bem sucedido, afinal conseguiu colocar no mesmo lugar, Capitão América, Homem de Ferro e Soldado Invernal. Entretanto… Como ele sabia exatamente qual era a missão da qual, Bucky Barnes assassinou a família de Tony Stark? Não só isso, de onde ele tirou investimento para uma máscara para simular as feições de Bucky, uma bomba, além de ter sequestrado um psicólogo e ter invadido uma base militar só com um crachá, dar um perdido no General Ross pra enfim deduzir que, pelo menos, Capitão e Bucky dariam conta de ir para o Quinjet, escapar do time Stark, chegar a Sibéria, que Tony também daria conta de chegar, ambos estarem no mesmo lugar e aí apresentar o óbito da mãe do Homem de Ferro??? Hã?

Afirmar que é um bom filme, é possível e não há discussões sobre isso. É um ótimo filme, com bons personagens e boas piadas, mas acaba se perdendo em sua própria ‘’grandiosidade’’, todas as metáforas a questão da liberdade vs segurança, todo o peso emocional de dois homens e seus times, que lutaram juntos é descartado por um enredo que, em sua essência é fraco, não lhe traz uma discussão de fato aprofundada. Apenas lhe dando bons momentos e cenas memoráveis, todavia, não foi esse o produto que venderam ao público. O público engoliu, a crítica está fechando os olhos pra esses pequenos erros que comprometem o quadro por inteiro, e não só isso, Civil War apenas influenciou para personagens e não para o universo que ele pertence, ou seja, não é um TWS cuja missão, era redefinir o status quo dos próprios heróis e do plano geral, é só uma discussão superficial.

No final, é apenas um filme legal, só isso.

Nerd: André Arrais

Pseudo-Cult, apreciador de café, ama quadrinhos como ninguém, rato de biblioteca, gamer casual, não sabendo tirar selfie desde sempre e andando na contra mão dos gosto populares. Finge é cheio de testosterona, mas vive rodeado de gatos. Esse é o meu design.

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