Dizer que brasileiro não tem capacidade de produzir conteúdo de qualidade é uma mentira que insiste em ser massificada e socada goela abaixo de todos nós, mesmo quando temos tantos filmes competentes ou extraordinários como ‘’Beijo da Mulher Aranha’’, ‘’Tropa de Elite’’, ‘’Dois Coelhos’’ e ‘’Cidade de Deus’’, portanto, é a vez do nosso país mostrar a que veio também na Netflix, que cada vez mais diversifica suas séries, dando abertura para produções mais internacionalizadas, sempre com seu selo de qualidade, mesmo que não se torne o ‘’assunto do momento’’ como ‘’House of Cards’’ ou ‘’Stranger Things’’, nessa abertura, uma ideia bastante interessante foi colocada à mesa: Uma distopia aonde a pobreza extrema reina e sua única chance de ascensão social é através de uma série de provas conhecidas como ‘’O Processo’’, que lhe dará a oportunidade de ir para o Maralto, um paraíso na Terra aonde não há injustiça ou pobreza, porém, somente 3% dos que prestam a prova conseguem atingir tal lugar, e é nesse contexto que a série começa. Sendo introduzido a cinco protagonistas, Michele (Bianca Comparato), Fernando (Michel Gomes), Rafael (Rodolfo Valente), Joana (Vaneza Oliveira), Marco (Rafael Lorenzo) que prosseguem no Processo conduzido por Ezequiel (João Miguel), cada um mostra suas características e motivações para conseguir realizar cada prova que lhe são impostas, obviamente, cada um detém seu segredos, uns maiores que outros. A série contrasta bem a oposição entre o local aonde as provas são realizadas, sempre muito claras e limpas, de uma sujeira impregnada que existe na favela onde todos os protagonistas moram além de uma falta de proteção para quem vive abaixo do Maralto, criando uma situação de extrema periculosidade e abandono, que contribuem para criar essa cisma muito bem clara e um motivo consistente implícito do porque existe essa necessidade da ascensão. São encontrados diversos paralelos com a ditadura militar, como a tortura no pau de arara (A técnica consiste numa barra de ferro que é atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o ‘conjunto’ colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 centímetros do solo), além de uma lavagem cerebral massiva em torna da população de forma a crer que aquela condição miserável é resultado unicamente de seus méritos, causando uma desumanização por quem falha dentro do Processo e até mesmo, dentro daqueles que o fazem, por parte dos aplicadores, tendo ali provas de cunho de experimento social a testes psicológicos e um alto nível de stress, isso são aspectos que a série deixa muito bem clara, portanto, sua mensagem enquanto ideologia é bem clara, criando uma distopia convincente para o cenário brasileiro, um ponto extremamente positivo para quem concebeu a série e percebeu o momento sociopolítico em que vivemos, transportando para a série essa realidade de forma fantasiosa, mas ainda há detalhes mais embrenhados na série que quando notados, dão maior transparência a como a nova sociedade funciona e opera. Da parte de personagens, encontra-se uma gama muito boa, desde o cadeirante que constantemente precisa se provar até um agente infiltrado da organização revolucionária conhecida como ‘’A Causa’, que busca destruir o Maralto e a opressão que se detém sobre toda uma população deixa a sua mercê, todavia, dentro da série, a muito pouco da construção de personagem, salvo exceções, mas ainda assim, grande parte ainda deve bastante e deve ser explorado dentro de uma segunda temporada, mas o dano irreversível de um romance porcamente feito ali deve ser perdurado, não só isso, 3% sofre pela falta de uma direção de atores, que apesar de detém potencial, são mal dirigidos e acabam entregando interpretações medianas para fracas, mesmo com algumas joias ali que se destacam, como Ezequiel, personagem extremamente bem feito e atuado. 3% encontrou-se na difícil tarefa de ser a primeira série brasileira a ser produzida pela Netflix, que naturalmente detém um selo de qualidade garantido, por mais que falhe em muitos pontos como os já citados acima e os três episódios iniciais que são mornos, após o quarto, a série engata em um ritmo interessante e um crescendo contido, entregando uma produção competente dentro do ramo em que decidiu operar, como um universo distópico com potencial para engolir outras obras desse mesmo gênero, seja cinema ou série, cabendo então a segunda temporada, mostrar para que a série veio e pra onde ela quer ir.
3% detém 8 episódios e já está disponível na Netflix!
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