Prédio Vazio: entre paredes mofadas e assombrações | Crítica
Chegou ontem, 12 de junho, aos cinemas Prédio Vazio, filme de terror nacional dirigido por Rodrigo Aragão (Mangue Negro). Inteiramente gravado em Guarapari (ES), o novo longa do fundador da Fábulas Filmes é um filme-escola vencedor do Prêmio Retrato Filmes e tem no elenco Gilda Nomacce (Três Tigres Tristes), Caio Macedo (Ruas da Glória) e Rejane Arruda (As Órbitas da Água). Carnaval, caipirinha e um pesadelo urbano O que era pra ser só mais um carnaval em Guarapari, carregado de glitter e caipirinha, vira um pesadelo psicodélico e sombrio. No longa, Luna, interpretada pela novata Lorena Corrêa, tem um sonho premonitório e parte em busca da mãe, que sumiu no último dia de Carnaval em Guarapari. É movida por esse pressentimento estranho que Luna chega à cidade e ao endereço indicado pela mãe, o Edifício Magdalena, uma construção velha, mal iluminada, com cara de que já viu coisas demais e preferia ter ficado cega. Ao invadir o prédio, Luna dá de cara com Dora (Gilda Nomacce), uma zeladora estranha que aparenta saber mais do que diz. Já o prédio, que até então era só mais um dos locais que ficam vazios fora da temporada, na verdade está lotado de presenças perturbadoras e coisas mal resolvidas. Em pouco tempo Luna percebe que entrou em um pesadelo claustrofóbico e bizarro, onde a maior exigência é saber o que, de fato, está vivo ali dentro. Prédio Vazio transita entre o psicológico e o comercial O filme inicia com um prólogo intimista. Sem diálogos, o longa nos faz voyeur diante do cotidiano metódico de um casal de idosos. Serve tanto para apresentar, de uma forma geral, a problemática do filme como a escolha narrativa. Esse início dá a entender que teremos pela frente um filme mais calcado em temas psicológicos e sociais e menos no terror convencional. No entanto, Rodrigo Aragão não está nem um pouco preocupado em atender expectativas. O que é bom e ruim, na mesma medida. Ainda que alguns temas sejam explorados, não são exatamente o objetivo central do filme, que segue o caminho mais comercial quanto ao quesito fantasmas e seus locais de assombro. Mas algumas metáforas ainda se fazem presentes, mesmo sem intenção de se aprofundar. Como quando a imagem de um prédio decrépito surge em meio à folia do último dia de carnaval, fazendo um paralelismo com os sentimentos de abandono e solitude, mesmo em meio à multidão. Ou, ainda, com a realidade que sobra quando a ilusão acaba. E isso já é suficiente para despertar interesse. Prédio Vazio traz atuações intensas… e outras nem tanto O longa foi realizado com recursos do Funcultura e é uma mistura de Evil Dead e filmes de Serial Killer. Prédio Vazio ainda tem referências de Dario Argento (Suspiria), com suas cores saturadas, olhos arregalados e a constante sensação de estar preso em um pesadelo. Prédio Vazio traz excelentes atuações de Gilda Nomacce e Caio Macedo. Gilda, em um papel ambíguo e intrigante, conseguiu deixar sua personagem enervante, ainda que carismática. Já Caio, como Fábio, tem um ótimo timing para comédia e me arrancou risadas sinceras em vários momentos. No entanto, muitas vezes toda imersão acabava enfraquecida com outras interpretações bem fora do tom. Mas verdade seja dita, o roteiro acabou não ajudando muito nesse quesito. Terror autoral tropeça no roteiro, mas tem soluções criativas Apesar da narrativa ser bastante simples, em muitos momentos ela parece enrolar e não saber o que de fato quer. Em certo momento, a cena exibe a morte de um personagem só para, em seguida, mostrá-lo vivo. Com relação às intenções, o texto não decide se os fantasmas querem ajudar ou não os personagens. Essas inconsistências...