Desconhecidos surpreende com thriller fora da caixa | CRÍTICA
Chega aos cinemas na próxima quinta-feira, 3 de abril, Desconhecidos (Strange Darling). O thriller psicológico finalmente estreia no Brasil depois de dois anos do seu lançamento internacional. Dirigido e escrito por J.T. Mollner (Outlaws and Angels) e estrelado por Willa Fitzgerald (Reacher) e Kyle Gallner (Sorria), o longa é uma grata surpresa para o cinema do gênero. E devo acrescentar, quanto menos você souber sobre esse filme, melhor vai ser sua experiência. Desconhecidos é um jogo de gato e rato Em Desconhecidos, somos lançados em uma caçada implacável pelos recantos do Oregon. Uma mulher ferida tenta desesperadamente escapar de um predador determinado. Cada passo em falso, cada respiração mais pesada, aproxima sua derrota. O que começa com um aparente caso isolado, rapidamente se desenrola em uma sequência crescente de assassinatos brutais. E, infelizmente, é tudo o que posso dizer sobre a trama sem revelar algum spoiler. Nesse jogo de gato e rato, o roteiro camufla a complexidade dos protagonistas atrás de uma nomenclatura simples: The Lady e The Demon. Com um suspense crescente, que prende o espectador em um vórtex de curiosidade, culminando em um clímax sufocante. E nada disso seria possível não fosse a excelente atuação de seus protagonistas. Lady x Demon Willa Fitzgerald, como The Lady, domina a tela com uma interpretação visceral e poderosa. Em certos momentos flertando com o caricato, mas sem nunca, de fato, ultrapassar essa barreira. No início, sua figura é frágil. Mas, ao longo da trama, ela se mostra cada vez mais feroz. E essa dualidade entre a vulnerabilidade e a força, construção e desconstrução, é o que hipnotiza quem acompanha cada nova virada da narrativa. Kyle Gallner, por sua vez, não fica atrás. Como The Demon, sua atuação é magnética e perturbadora, oscilando entre o sedutor e o monstruoso com um carisma provocador. Cada movimento, cada olhar, é carregado de intenção predatória. Ele não caça por prazer ou impulso irracional. É algo mais. E é justamente isso que o torna infinitamente mais assustador, como um espelho sombrio da humanidade que preferimos ignorar. Amnésia, Tarantino e um toque de Grindhouse Sim, a premissa é bem familiar. Diria até batida, talvez. Mas o que diferencia Desconhecidos é a maneira como ele manipula a percepção do público. J.T. Mollner tem uma escolha narrativa que trabalha a favor do mistério, o que, em consequência, ajuda a adicionar camadas às motivações dos personagens. Cada capítulo, meticulosamente embaralhado, adiciona uma parte nova ao quebra-cabeça. Para quem já assistiu Amnésia, de Christopher Nolan, sabe como a escolha de como contar uma história pode influenciar no entendimento sobre o que se está vendo. E a manipulação narrativa aqui, abordando uma estrutura não linear, é perfeita para fazer o espectador tirar conclusões precipitadas. Mas é interessante ver como a estrutura, se realinhada, também faria sentido e resultaria, igualmente, em um excelente filme. Já nos primeiros minutos, Desconhecidos chama atenção pela nítida influência que tem de cineastas como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez na construção estética da narrativa. Estruturado em capítulos e com diálogos cheios de subtexto, é impossível não lembrar de Kill Bill e Planeta Terror. A forma como J.T. Mollner traz esse cinema mais Pulp e exagerado, porém, mantendo a sofisticação ao retratar relações de poder e perversidade, sem perder a elegância, me faz querer ficar de olho nas suas próximas obras. Desconhecidos traz beleza Tensa: som, cor e atmosfera Desconhecidos tem uma cinematografia pensada para ser atraente e provocar desconforto ao mesmo tempo. O uso de cores saturadas, closes demorados, excesso de brilho e enquadramentos cuidadosamente planejados passam a ideia de um sonho febril e ajudam a criar uma atmosfera inquietante. Outro ponto positivo é a trilha sonora,...